Foto por #Punk (Luana Garcia)
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Por mais de uma semana, a polícia do ES declarou greve. Os policiais recusavam-se a sair dos quartéis. Os veículos de comunicação exibiam, em seus jornais, suas notas, seus noticiários, a repulsa pelo “absurdo motim”. Entre as razões para tal, são atribuídas o salário medíocre – que não recebe ajustes há quase 10 anos – e as péssimas condições de trabalho. A greve do ES é apenas um dos reflexos da militarização da polícia brasileira, que atinge e decai a segurança pública do país.
A principal questão discutida é a ilegalidade dessa paralisação e que a reivindicação de seus direitos deveria ser feita de outras formas. Obviamente, negar segurança à população e cessar a atuação policial é radical e inadmissível, mas o grande problema é que o perfil militar impede o diálogo, já que torna a polícia totalmente hierárquica - para ter uma noção melhor do conceito de militarização e as propostas de reversão desse perfil, leitor, leia o post do moderador #Skar (aquele lindo), da última segunda (13/02).
“Os policiais não são pensados como trabalhadores, e sim como militares”, afirma Jacqueline Muniz, conselheira do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e doutora em Estudos de Polícia, em entrevista para o portal de notícias Terra. Militares possuem menos liberdade que os civis, seguindo um modelo de trabalho vertical, cujo qualquer questionamento sobre condições trabalhistas direcionado à organização pode levar à prisão por desacato. Logo, a paralisação foi uma forma de chamar atenção e reivindicar uma melhora de condições.
A militarização não só impossibilita diálogo dentro do órgão, como alimenta a violência policial. Pesquisas do Fórum Brasileiro de Segurança Pública indicam que o treinamento deplorável dos PMs e o tratamento posterior levam à reprodução da violência. Desde privação do sono à humilhação moral e física, o policial é moldado com o único objetivo de eliminação direta do “inimigo”, descartando todo o caráter diplomático e o diálogo, necessários na manutenção de casos civis. Daí provem parte considerável dos inúmeros casos de violência à população, como as chacinas policiais.
Ao contrário do que muitos pensam e passam a diante, o discurso de desmilitarização não pretende acabar com a Polícia. A necessidade da reforma do sistema de segurança pública é inquestionável, não só para a população mas, principalmente, para a própria policia. Há uma diferença exorbitante e gritante entre eventos civis e militares, portanto não há razão para tratá-los da mesma forma. Força policial não é força militar e segurança pública é essencial.
Por fim, meu caro leitor, darei algumas indicações de filmes e documentários. Primeiramente, me rendendo ao clichê, indicarei o famosíssimo Tropa de Elite (2010), mas com um olhar mais crítico. Muitos vêem, equivocadamente, o protagonista como um herói. Inclusive, em entrevista, o ator Wagner Moura, que o interpreta, declarou que o Cpt. Nascimento representa o pior da polícia. Acho válido, também, o documentário À Queima Roupa (2014), que retrata as chacinas do estado do Rio de Janeiro e ilustra a violência policial de forma crua. Já aviso que esse último é "pesado".
#Punk
Militarização da Polícia: o retrato de um Brasil agressivo
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fevereiro 15, 2017
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