Primeiramente, vale ressaltar que o direcionamento desse texto é o movimento lésbico e sua luta, tendo em vista que essa semana foi a Semana da Visibilidade Lésbica. Entretanto, os problemas que serão mencionados no presente artigo ocorrem dentro de outros segmentos do movimento LGBT e não podem ser esquecidos!
O dia 29 de
Agosto de 1999 foi um marco para o movimento lésbico. Nesse dia as mulheres
lésbicas foram oficialmente inseridas dentro do movimento LGBT, com o intuito
de sinalizar cada vez mais a luta e a visibilidade lésbica dentro e fora dessa
comunidade. A partir desse momento, o dia ficou conhecido como “Dia da Visibilidade Lésbica”, visando
destacar o combate ao preconceito e a violência contra essas mulheres, fruto da
misoginia vista de forma bastante abrangente no Brasil, além de propor debates
sobre a importância do reconhecimento da identidade de gênero e sexualidade,
entre outros.
O artigo
pretende mostrar como que o machismo existente dentro da própria comunidade
LGBT é utilizado como ferramenta de apagamento dos demais segmentos desse
movimento, principalmente quando se refere à luta das mulheres. A falta de
representatividade, e até mesmo a falta de união dentro dessa comunidade
ocasiona um desnivelamento absurdo entre a luta dos membros LGBT. Muitos casos
de preconceito e lesbofobia já foram sinalizados dentro da própria comunidade
LGBT, ratificando não só o ofuscamento e apagamento do movimento lésbico, como também
a necessidade do debate sobre a misoginia e o machismo. Até porque uma coisa é
fato: Migo, não
é por que você é gay que não pode ser machista. Tenha consciência disso!!!
O machismo dentro da
comunidade LGBT
Antes de mais
nada é preciso ter em mente que machismo e homofobia não são a mesma coisa.
Muitas pessoas usam como justificativa o fato de que um gay não pode ser
machista porque ele também sofre os resquícios do machismo. É óbvio que em
muitos casos, sim, o machismo anda lado a lado com a homofobia, como são
representados nos casos dos gay ditos “efeminados”, que são demasiadamente
criticados por suas características que seriam mais atribuídas às mulheres. No
entanto, essa crítica aos gays “efeminados” só evidencia a cultura misógina tão
presente em nossa sociedade, e não pode ser utilizada como passe livre para
essa argumentação de que, se o cara é gay não pode ser machista. Esse tipo de justificativa
não corresponde com a realidade! Um gay pode ser sim, e de fato muitos são,
machistas... A partir do momento em que eles desmerecem, ou ofuscam a luta
lésbica, eles estão sendo machistas. A partir do momento em que se vê homens
gays agindo de maneira hostil com as mulheres, manifestando desrespeito e
menosprezando o gênero feminino, de diversas formas, eles estão sim sendo
extremamente machistas, e isso ocorre de maneira assustadora dentro do
movimento LGBT.
O machismo
disseminado pelos homens gays é algo tão interiorizado em nossa sociedade que
pode ser difícil para algumas dessas pessoas identificar determinados discursos
e comportamentos machistas. Todavia, de forma alguma isso é justificativa para
se perpetuar esse comportamento opressor. Expressões que humilham as mulheres,
mesmo ditas em “tom de brincadeira” (como muitos justificam), ou até mesmo o
apoderamento de determinados componentes vistos como “feminino” e sua
utilização como um mecanismo de inferiorização, só ratificam essa ideia
machista de que tudo que está associado à mulher e ao feminino é visto como
algo indigno. Portanto, é preciso ter muito cuidado com os discursos, porque
mesmo um homem gay pode sim reproduzir um discurso machista dentro do movimento
LGBT e isso é algo recorrente! Mesmo de forma inconsciente, muitos gay
reproduzem discursos machistas e até mesmo lesbofóbicos..
A lesbofobia e o apagamento do movimento lésbico em comparação com o
gay entre os membros da comunidade
Ademais, o
apagamento do movimento lésbico é algo exacerbadamente absurdo dentro do
movimento LGBT. Na realidade, ocorre um esquecimento escrachante dos segmentos
LBT, como se a comunidade fosse formada somente pelo segmento G, mas como eu
disse anteriormente, o foco do artigo é o movimento lésbico (no entanto esses
outros segmentos NÃO devem ser deixados de lado, é preciso propor um debate
sempre).
À exemplo
disso destaca-se a “Parada do Orgulho Gay”, que na realidade é a Parada do
Orgulho LGBT. Esse movimento foi denominado de Orgulho Gay, e levou o G na
frente do nome até 2008! O resto dos segmentos eram nitidamente esquecidos
dentro da própria comunidade, que focavam somente em uma das lutas. Além disso,
quando a mídia noticia essas passeatas como expressão de somente um dos
segmento do movimento (que são os homens gays), ela está corroborando para o
apagamento dos demais componentes da comunidade LGBT. Além disso, a mídia não
apenas dificulta a questão da visibilidade da luta lésbica como também das
demais representações dessa comunidade, deixando todos à sombra do movimento
gay. Como forma de resistência desse apagamento dentro da própria comunidade
LGBT, ocorreu, um dia antes da 19ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo a Caminhada
de Mulheres Lésbicas e Bissexuais, que sinalizaram esse abismo
existente entre o movimento gay e os demais.
Portanto, é
preciso ter em mente que o machismo encontra-se inserido no movimento LGBT,
dificultando a visibilidade dos demais segmentos e acarretando, infelizmente,
em práticas e discursos machistas e lesbofóbicos dentro da própria comunidade.
É válido lembrar que crer nessa ideia absurda de que não ocorre discursos e
ações preconceituosas dentro do movimento LGBT é ignorar essa realidade tão
evidente dentro do movimento, e que muitos lutam para extinguir. A
discriminação é algo diário dentro da comunidade e precisa ser sinalizada e
combatida para que o apagamento dos demais segmentos diminua cada vez mais. Até
por que, é inadmissível um movimento que diz lutar por igualdade ser tão
discrepante diante dos seus próprios membros.
O Machismo dentro da comunidade LGBT e a questão da Lesbofobia
Reviewed by Knaippe
on
setembro 01, 2017
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