Crianças gritam, mulheres se desesperam, homens choram.
Pessoas morrem. Milhares de refugiados, milhares de histórias perdidas. A
década de 2010, principalmente o último ano (2016), teve as editorias
internacionais de seus jornais tomadas pelo conflito civil sírio. Esse que, meu
ávido leitor, talvez seja tema para um próximo post, aprofundado na primavera
árabe, mas que, na minha humilde e pensativa cabeça, é inevitavelmente associada aos anos 90 e seu enfoque nas guerras civis africanas, equivalentes
em brutalidade.
Antes de apresentar
tais fatos, é não só cabível, mas necessário pincelar seu plano de fundo.
Portanto, voltemos ao século XIX, auge do Imperialismo -sim, aquele que caiu na
sua prova de história do ensino médio. As potências da época, como a “Rainha”
Inglaterra, Alemanha, França e, claro, seria rude esquecê-lo, os Estados
unidos, em um esforço de elevar, ainda mais, seus impérios econômicos, partiram
para os continentes Africano e Asiático e a Oceania. Adquirindo um verdadeiro jackpot de recursos, dentre mão-de-obra
absurdamente barata e matéria-prima em abundância.
Obviamente, essa exploração não era algo inédito, visto o
século XV. A grande diferença entre o
colonialismo dessa época e o Imperialismo - ou Neocolonialismo, pode usar o que
achar mais elegante - é o objetivo. O capitalismo comercial de meados do milênio,
associado à busca incansável de metais preciosos, sofre a metamorfose
industrial, visando elementos que viabilizem a nova revolução.
Como a África era uma verdadeira “Garota de Ipanema” aos olhos colonizadores, gerava certos conflitos
entre os soberanos econômicos. Estes que, em 1885, massageando seus egos ditos
“civilizados”, realizaram a Conferência de Berlim, ponto chave para os
conflitos que chocariam, um século depois, o mundo que engatinhava para a
globalização.
A conferência dividiu o continente africano como uma ceia de
Natal entre os colonizadores. A questão é que essa delimitação territorial não
levou em conta qualquer aspecto étnico, social ou histórico da região.
Portanto, não era raro colônias abrigarem tribos com ideologia divergentes ou até
rivais em seu território. Os colonizadores, diversas vezes, beneficiavam uma
das partes em específico, a que mais colaborasse e obedecesse, colocando-a no
“controle”. Sem dúvida, traçar linhas invisíveis e estabelecer tribos
diferentes como uma só é uma excelente ideia em questões de diplomacia.
A independência Africana teve início na década 20, com o
Egito, mas começou massivamente na década de 60 e 70. Mesmo com retirada dos
colonizadores, a população das antigas colônias, cicatrizada pelas vertentes
ideológicas conflituosas, ainda era regida pelos “beneficiados” da época imperialista.
Contudo, dessa vez, não havia uma força maior dando as cartas no domínio dos
novos países. Não podia dar mais errado.
Ruanda é um dos inúmeros conflitos civis africanos mais
famosos e chocantes, com 800 mil mortos no massacre do dia 7 de abril de 1994. A
antiga colônia alemã – que passaria para a Bélgica após a Primeira Guerra
Mundial - presenciava a adversidade entre as etnias Tutsi, minoritária, mas,
por muito tempo, detentora do controle do país, por possuir uma fisionomia que,
ao ver de seus colonizadores, seria “mais branca”, e Hutu, cerca de 85% da
população.
![]() |
Milícia Hutu Foto Original por Dw/s. Schlindwein e Edição por Luana Garcia (#Punk) |
Em resumo, no início dos anos 90, após “derrubar” o
monopólio Tutsi, os hutus tomaram o poderio político do país, já uma república.
Contudo, em 93, ambas as partes, após um intenso conflito que refugiou parte
considerável da população Tutsi, estabeleceram um acordo de paz, sob comando de
um presidente hutu, cujo o avião seria derrubado na véspera
do genocídio. Os extremistas Hutus – que não eram poucos, por sinal – atribuíram
a culpa da queda aos rivais étnicos, saindo às ruas e assassinando-os a sangue
frio.
No dia seguinte, os jornais internacionais estampariam os
eventos em suas manchetes. O reflexo de marcas históricas de mais de um século.
O sofrimento que chocaria o mundo dos anos 90, assim como o conflito sírio
choca o mundo dos anos 2010.
E, por fim, a você, leitor, seja curioso ou apenas
desesperado com sua prova ou trabalho de história, que deseja saber mais sobre
Ruanda e outros conflitos civis africanos, mas não é o maior apreciador
documentários, recomendo os filmes “Hotel
Ruanda”, de 2005, e “Diamante de
Sangue”, de 2006, com Leonardo DiCaprio – parabéns pelo Oscar, Leozinho. Talvez
você tenha uma noção maior, já que o conflito em si não foi tão aprofundado neste
post, senão ficaria demasiadamente cansativo.
#Punk
África e as Cicatrizes do Passado
Reviewed by Unknown
on
janeiro 25, 2017
Rating:

Nenhum comentário: